Após veto de Dilma, Senado aprova versão mais rígida para criar cidades

GABRIELA GUERREIRO
Folha de S. Paulo

Depois do veto da presidente Dilma Rousseff ao projeto que abre caminho para a criação de mais 269 novos municípios do país, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou nesta quarta-feira (16) outra versão da proposta com regras mais rígidas para que as novas cidades sejam criadas ou incorporadas por outras.

O projeto determina que os municípios sejam criados preferencialmente nas regiões Norte e Nordeste –que têm menor densidade demográfica. O texto aumenta o tamanho da população mínima do município para que ele seja criado, desmembrado ou incorporado por outro em relação ao projeto do Congresso: 20 mil habitantes nas regiões Sudeste e Sul.

Em contrapartida, abaixou para 6.000 habitantes no Norte e Centro-Oeste. No Nordeste, a exigência mínima é de 12 mil habitantes. No projeto inicial, os números não beneficiavam as regiões menos populosas do país.

Apesar do discurso dos senadores de que o projeto limita a proliferação de novas cidades, o texto estimula fusões e incorporações ao permitir que cidades que se aglutinarem recebam o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) até 12 anos depois de serem criadas. Pelas regras do fundo, a aglutinação de dois municípios de, por exemplo, cinco mil habitantes cada um, faria com que o novo município de dez mil habitantes recebesse menos do que a soma recebida pelos dois de cinco mil habitantes.

"Preservar por 12 anos uma receita maior dá tempo suficiente para que as unidades fundidas possam ajustar suas administrações a ponto de, no futuro, terem uma participação menor no FPM", disse o relator do projeto, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

O relator também sugeriu uma "regra de transição" para que, a partir do 13º ano, os novos municípios tenham 10 anos para começarem a receber gradativamente a nova cota do FPM. Pela nova proposta, a formação de novas cidades só será permitida após a realização de estudo de viabilidade municipal e de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações envolvidas.

O texto reduz de 10% para 3% da população dos municípios o número de assinaturas necessárias ao requerimento para dar início ao processo de fusão ou incorporação. O projeto ainda estabelece o tamanho mínimo de 200 km2para o novo território. Ele também deve ter arrecadação própria superior à média de 10% dos municípios do Estado.

O objetivo do governo é negociar a aprovação do novo projeto na Câmara e no Senado para substituir o vetado pela presidente –e também evitar a derrubada do veto no plenário do Congresso.

IMPASSE

O Congresso aprovou o projeto vetado pela presidente no ano passado. A versão inicial abria caminho para a criação de 269 novos municípios no país. Com a nova versão, as entidades municipalistas ainda não calculam quantas novas cidades poderão surgir no país.

Presidente da Confederação Nacional do Municípios, Paulo Zilkoski defendeu a criação de novas cidades ao afirmar que a principal discussão não está sendo realizada pelo Congresso: o impacto político das novas cidades, com a criação de prefeituras e câmaras de vereadores.

"O que está errado não é a criação de municípios, mas o custo da chamada área política de gestão do município. Isso ninguém discute porque há muito deputado e senador com bases eleitorais em cima de prefeitos. O debate não ocorre por interesses locais", afirmou à Folha.

No ano passado, a presidente Dilma vetou a proposta oringinal integralmente porque o Planalto teme os impactos fiscais da criação dos novos municípios,estimados em R$ 9 bilhões.

Em mais da metade dos municípios do país, as receitas próprias não chegam a 10% do Orçamento. Para conter a multiplicação de municípios, foi incluída na Constituição, em 1996, a exigência de uma lei que disciplinasse as regras para a emancipação de distritos. Com o veto de Dilma, o país continua sem essa lei.

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