Senadores fazem visita ‘monitorada’ a unidades do Complexo de Pedrinhas


A Comissão de Direitos Humanos do Senado – representada pelos senadores Ana Rita (PT-ES, presidente da comissão), João Capiberibe (PSB-AP, vice-presidente), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Humberto Costa (PT-PE), fizeram hoje (13) uma visita “monitorada” ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas. 

Todo o tempo em que estiveram no complexo, os senadores foram acompanhados por homens encapuzados do Geop (Grupo Especial de Operações Penitenciárias). O homens do Geop – ligado à Sejap (Secretaria de Estado de Justiça e Administração Penitenciária) – também impediram a entrada na Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), na Casa de Detenção (Cadet) e no Presídio São Luís 1 de representantes da seccional maranhense da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), Rafael Silva e Antonio Pedrosa, e de pessoas ligadas a outras entidades da sociedade civil. 

 
As entidades estaduais impedidas de acompanhar a visita denunciaram a proibição à imprensa. Se manifestaram, além da Comissão de Direitos Humanos da OAB, a Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Maranhão, a Defensoria Pública do Estado (DPE), a Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão (Ampem), além das ONGs Conectas e Justiça Global.

Segundo Antonio Pedrosa, da OAB-MA, a proibição da entrada das entidades “demonstra a desorganização do sistema prisional do Maranhão”. 

“Não somos estranhos nem alheios à situação dos presos. Nos identificamos para comprovar que somos advogados e temos as nossas prerrogativas, que infelizmente foram violadas”, disse Pedrosa. 

O caso seria relatado aos integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado que fizeram a vistoria em Pedrinhas hoje. 

“Essa visita dos senadores a Pedrinhas foi guiada e mapeada pela Secretaria de Estado de Justiça e Administração Penitenciária. Sabemos que houve maquiagem e camuflagem de algumas celas, onde o cenário de superlotação é visível”, afirmou Antonio Pedrosa.

FALHA – Uma falha da segurança viabilizou, no entanto, a entrada de pouco mais de 20 jornalistas às dependências da CCPJ.

Os presos relataram que a superlotação decorre da morosidade da Justiça em liberar os detentos que já teriam cumprido parte de suas penas no regime fechado devendo migrar para os regimes semiaberto e aberto. 

“Minha cela tem capacidade para seis presos, mas hoje somos 10 a ocupar um espaço minúsculo. Na cela aqui ao lado cabem 15 pessoas, mas tem 31”, afirmou o detento Marcelo Nunes, 29, condenado por assalto.

Depois que a segurança da CCPJ detectou a presença da imprensa no interior da unidade, os profissionais foram “convidados” a se retirar do local, o que gerou insatisfação nos presos, que atiraram objetos e “quentinhas” nos monitores, chegando a atingir alguns jornalistas. 

O senador Lobão Filho (PMDB-MA) – filho do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) –, que acompanhou a visita da comissão do Senado, criticou o foco dos senadores integrantes da CDH.
“A comissão está cometendo um equívoco. Os direitos humanos deveriam se preocupar primeiramente com as vítimas, depois com as famílias dos policiais, e os encarcerados deveriam ocupar o último lugar na escala de prioridades”, afirmou.

Após a visita a Pedrinhas, a comissão reuniu-se com representantes do Ministério Público do Estado do Maranhão (MP-MA) e com a presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA). Depois, às 18h30, uma reunião na Defensoria Pública do Estado e um encontro com a governadora Roseana Sarney (PMDB) também estavam agendados. 

Com capacidade para abrigar 1.770 detentos, o Complexo de Pedrinhas tem atualmente 2.196 presos.

A superlotação e a guerra entre duas facções criminosas (Bonde dos 40 e Primeiro Comando do Maranhão) pelo comando do complexo foram responsáveis pela morte de 59 detentos no ano passado. Neste ano, já foram assassinados dois.

O endurecimento na disciplina do presídio, nas últimas semanas, levou à retaliação dos presos, que ordenaram (segundo “grampos” telefônicos confirmaram) que ônibus e delegacias de polícia fossem atacados. 

Uma menina de 6 anos – Ana Clara Santos Sousa – morreu no dia 6, após ter 90% do corpo queimado num dos ataques.

OAB – O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Maranhão (OAB-MA), Mário Macieira, defendeu a retirada da Polícia Militar do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em reunião realizada na manhã de hoje (13) com a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, na sede da OAB-MA, em São Luís.

“Estamos recebendo denúncias por conta da atuação da PM que merecem ser apuradas. Em princípio, a OAB é contra a militarização do presídio e defende que a segurança seja feita por agentes penitenciários concursados. É uma proposta, mas ainda não foi discutida”, disse Macieira.

Nenhum representante da CDH do Senado quis conceder entrevista hoje.

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