Caóticos e hipócritas

Encontrei-me, ontem, com um amigo de longas datas. Não o via desde a década de 60 quando disse num momento de rompante e alto elogio que dera o primeiro tiro em prol da revolução de 64. De lá para cá ele não mudou. Continua se alto elogiando, dizendo-se a solução de todos os problemas e o mais importante homem depois do Papa. E, enquanto não escolherem outro, ele é o próprio Papa. Mas igual a esse meu amigo existem outros homens que se acham imunes aos erros e aos pecados na terra; que se alto proclamam verdadeiros santos. Considerando-se assim, chegam a sugerir fórmulas de como consertar o mundo e oferecem receitas de como ser eternamente feliz. Sem beber, sem fumar, sem praticar nenhum desfrute. Têm lugar reservado no Céu...

Enquanto o Papa João Paulo II era velado no Vaticano por uma multidão de fiéis que o homenageavam pela última vez e, simultaneamente, povos, do mundo inteiro, principalmente as camadas mais sofridas rezavam por ele, no Brasil questionava-se: “Lula é católico ou caótico?” O presidente foi firme ao dizer que a sua fé não precisa necessariamente ser declarada. Seria o mesmo que não cobrar explicações sobre as lendas relacionadas ao líder máximo do catolicismo de envolvimento com a máfia e com a CIA “ou com grupos de manipuladores mundiais” que fariam parte “do lado sombrio atribuído ao pontificado – porém jamais provado”.

Uma coisa é certa: o Papa, mesmo depois de morto conseguiu o inusitado. Unir ao seu redor Lula, Fernando Henrique, Sarney, Severino e Calheiros, sem falar na mãe de santo que perdeu o vôo porque teria chegado atrasada. Estavam todos aparentemente realizados, afinal foram participar do maior e mais triste acontecimento da terra. Sem deixar transparecer as diferenças que existem entre eles, foi, talvez, a oportunidade única de, ao mesmo tempo, provarem que são civilizados e hipócritas. Mas, o momento exigia esse comportamento.

Mas voltando ao amigo – que da mesma forma que “começou” também “acabou” a ditadura – registro aqui, com certa angustia, a afronta de outros personagens hilariantes que circulam nas páginas dos jornais se alto intitulando donos absolutos da verdade. Particularmente quando ouço alguém dizer que é o tal, que foi o primeiro a tomar determinadas posições ou decisões; que se considera injustiçado, porque é competente, conhece tudo, que aqueles e aquelas são incompetentes ou confiáveis, etc e tal, desconfio de imediato do caráter dele. Pois entendo que quando a pessoa tem essa preocupação de transpor aquilo que acha que é e o que faz, dá a impressão de que nem ele próprio tem certeza de coisa nenhuma e, por isso, clama para alguém reconhecer as qualidades que imagina ter.

Não é cisma. Mas o senador José Sarney, especialista em transformar-se de vilão a vítima conseguiu adeptos fiéis no Maranhão. O governador José Reinaldo que se cuide, porque desde o momento que ele anunciou a possibilidade de imprimir uma ampla reforma no secretariado, está cercado de “vítimas” travestidas de “os perseguidos da oligarquia” que, a todo custo, querem participar do banquete do poder, inclusive o meu amigo, que depois de passar vários anos na sua terra natal está de volta. E se o governador bobear ele vai dizer, sem nenhuma cerimônia, que assim como “o elegi, Zé, estou pronto para ajudá-lo se me deres uma secretaria estratégica e que tenha um bem dotado orçamento”...

É, hoje mudei de estilo. Talvez por influência desse amigo que baixa o cacete no governo, mas não dispensa uma boquinha e quer ir além, ou porque o Papa morreu, ou, ainda, porque vi Lula colocado na berlinda quanto a sua fé em Deus. Ou será que, de repente, Sarney vai ser escolhido Papa? Bom, ele já é considerado papa na luta contra os pobres, papa em trincar verdades, papa em trocar de posição..., e por falar nisso, será que o Amapá não o aceita em definitivo, dando em troca ao Maranhão o senador Capibaribe? É apenas uma pergunta...

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