Os privilégios e o autoritarismo dos Sarney precisam ser contidos antes que seja tarde


Observando-se a contundência com que os órgãos de comunicação da família Sarney denunciam supostas irregularidades administrativas no Maranhão, imagina-se, à priori, que fisiologismo e corrupção e o crime eleitoral são “privilégios” jamais praticados pela oligarquia comandada pelo atual senador amapaense José Sarney. O tom da ingratidão dado com relação ao comportamento do governador José Reinaldo, também, nos leva à quase convicção de que o autor de “Maribondos de Fogo”, sempre agiu com lealdade com os seus amigos e aliados.

A realidade é que o jornal Folha de S. Paulo, edição de 10 de fevereiro de 1988 (Sarney era presidente da República), em reportagem assinada pelo jornalista César Borges “o ex-ministro Aníbal Teixeira omitiu da relação de “padrinhos”, que patrocinaram a liberação de verbas, a fundo perdido pela Seplan, nomes de familiares do presidente José Sarney.”

Segundo a matéria “a lista foi publicada na quarta-feira da semana passada (03/02/88 pela Folha com vários espaços em branco). Esses espaços ocultam, por exemplo, o nome da mulher do presidente, Marly Sarney; de seu filho, deputado federal Sarney Filho (PFL-MA); de seu genro e secretário particular Jorge Murad e de seu sobrinho, deputado estadual Sarney Neto”.

A ocultação dos nomes de familiares do então presidente da República, nesse episódio, por si só leva os leitores a vários questionamentos. O principal: por que omitir os nomes dos “padrinhos” se as reivindicações eram consideradas legais? Embora a justificativa anexada aos pedidos fosse feita de forma genérica (sem detalhes) como esta do deputado Sarney Filho, no valor de 7,28 milhões para “execução de obras de infra-estrutura no município de Paulo Ramos”, supõe-se que os recursos foram (ou seriam) devida e corretamente aplicados. Por que, então, o segredo?

A reportagem diz, ainda, que a Folha teve acesso aos nomes dos “padrinhos-fantasmas” de duas das seis fontes de recursos a fundo perdido: Reserva do Fundo Especial (RFE) e Encargos Gerais da União (EGU) e que “continuam sendo mantidos sob sigilo os espaços em branco referentes ao Fundo de Crédito Suplementar, Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), Programa de Integração Nacional (PIN) e Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (Proterra)”.

A matéria afirma de forma categórica que “o nome do deputado Sarney Filho foi omitido na lista preparada por Aníbal, em cinco pedidos de recursos feitos ao Ministério do Planejamento, mas permanece armazenado nos computadores do governo, como os dos demais integrantes da família Sarney”. Muito embora não haja explicação consistente para a obtenção de verbas, a fundo perdido, os Sarney conseguiram, segundo a Folha, atendimento aos seus pedidos sem maiores complicações.

Da Reserva do Fundo Especial (RFE) o então deputado Sarney Neto conseguiu atender a Prefeitura de Icatu (Cz$ 2,852 milhões) para ampliação do hospital e aquisição de veículo para o município e Cz$ 1 milhão para serviços de infra-estrutura no município de Afonso Cunha; Marly Sarney, governo estadual – instalação de creches (Cz$ 30 milhões); deputado Sarney Filho – prefeitura de Poção de Pedras – obras diversas (Cz$ 500 mil). Ainda por intermédio do deputado Sarney Filho, foram liberadas as seguintes verbas: para a prefeitura de Vitorino Freira – obras diversas (Cz$ 500 mil); prefeitura de Tutóia – construção de pontes (Cz$ 5 milhões); prefeitura de Buriti Bravo – execução de programa de trabalho (Cz$ 2 milhões) e prefeitura de Paulo Ramos – obras de infra-estrutura (Cz$ 7,28 milhões). Do mesmo RFE, a pedido de Paulo Mandarino – governo estadual, rede de energia elétrica – Cemar (Cz$ 16 milhões). O presidente da Cemar, à época era outro filho do presidente: Fernando Sarney.

Do Encargos Gerais da União (EGU) Jorge Murad conseguiu liberar para a prefeitura de Pinheiro, em obras de infra-estrutura, Cz$ 200 milhões e Marly Sarney (Fundação Casa do Artesão), Cz$ 4 milhões. Embora o presidente Sarney tenha tentado desmentir seu empenho na liberação das verbas, a Folha “teve acesso ao Memorando Ditado 191/87/AJO, de caráter reservado e pessoal, através do qual encaminhou o pedido do governador ao ministro Aníbal Teixeira “para estudo sobre a situação financeira do Estado do Maranhão que me foi entregue pelo governador Epitácio Cafeteira”, disse. No memorando, Sarney pede ao ministro “estudar com a máxima urgência a referida documentação”...

Causa estranheza à forma como o pedido era feitos, a negação do apadrinhamento e a tentativa de se impedir que esses fatos chegassem ao conhecimento da opinião pública. Assim como causa espanto a posição atual dos Sarney, contra a aprovação do empréstimo de US$ 30 milhões que o governador José Reinaldo tenta obter a autorização do Senado Federal para formalizá-lo junto ao Banco Mundial.

As contradições são grandes. Os leitores ficam a indagar: o fisiologismo praticado no passado virou sinônimo de perseguição? Apadrinhamento é privilégio exclusivo da família? Liberação de recursos para o Maranhão sem a intermediação direta deles é crime? Antes de denunciar erros dos outros, os órgãos de comunicação da oligarquia deveriam olhar para o próprio rastro. Assim concluiriam que muita lama foi removida e esse “império” colocado a serviço da mentira e da intriga, pode ruir se perdurar, no próximo governo, o veto à liberação do “mensalão” de R$ 700 mil que era destinado ao sistema...

Esse pessoal afronta as leis se aproveita do poder, comete crime eleitoral, como o fez a senadora Roseana Sarney ao distribuir material de campanha impresso na Gráfica do Senado, no último domingo em São Luís, e ainda se acha com o direito de dizer que no Maranhão não há governo.

Esnoba, com o autoritarismo que lhe é peculiar, da competência que verdadeiramente não é o seu forte, mas que o seu sistema de comunicação tenta incutir na população como fato verdadeiro. A esperança da sociedade consiste na grandeza de espírito de justiça do eleitorado que, desta vez, parece disposto a rejeitar o nome dela e de todos os Sarneys, através das urnas, no dia 1 de outubro.

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