Um
levantamento realizado pelo Ministério do Turismo revela que o país
recebeu turistas de 203 nacionalidades durante a Copa do Mundo. A
maioria (61%) ainda não conhecia o país e elogiou os serviços de
infraestrutura e turismo. Os itens mais bem avaliados foram a
hospitalidade (98%) e a gastronomia (93%).
Mais
de três milhões de brasileiros (3.056.397) visitaram as cidades-sedes
durante a Copa, 67% pela primeira vez. O atendimento e a receptividade
foram elogiados por 90,5% dos turistas e 87,2% ficaram satisfeitos com
as opções de lazer e turismo oferecidas. Os estádios foram aprovados por
92% dos brasileiros e por 98,2% dos estrangeiros.
A
avaliação dos turistas domésticos e internacionais foi feita pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe) respectivamente. A pesquisa ouviu 6.627 estrangeiros e
outros 6.038 brasileiros desde o início do Mundial.
O deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira, falou sobre os números divulgados pelo Ministério do Turismo.
–
Fim da Copa do Mundo, o Brasil não levou o título, mas os números
revelam que o Mundial mexeu com o turismo no país e colocou o Brasil no
centro das atenções. Como o senhor avalia esse resultado?
Gastão Vieira - Nós do Ministério do Turismo sempre trabalhamos com a certeza de que, mesmo com grandes obras de mobilidade urbana e com as reformas dos principais aeroportos do país, o maior legado que a Copa deixaria para o Brasil seria para o turismo. Os
estrangeiros que viessem ao Brasil, bem tratados como foram, gostando
do país como gostaram , haveriam de retornar e se transformarem, a curto
prazo, em divulgadores muito importantes da imagem do Brasil para
outras pessoas.
Por
outro lado, a visibilidade do país, quase dois bilhões de
telespectadores que acompanharam, não apenas os jogos, mas durante a
final quando foi exibida a lindíssima imagem do Cristo Redentor perto do
Estádio do Maracanã, o contorno da Baía da Guanabara, tudo isso serviu
para consolidar aquela nossa expectativa de que o grande legado seria
efetivamente, o mundo descobrir o Brasil como destino turístico
importantíssimo, atraente e que, acima de tudo sabe receber muito bem os
seus turistas.
–
Em relação às obras de mobilidade, como o senhor viu o fato de algumas
não terem sido concluídas, o que o senhor espera daqui pra frente com o
fim do Mundial?
Gastão Vieira
- Eu acho que, embora sempre existisse oferta de recursos, nem sempre
os governos estaduais e municipais investiram em obras de mobilidade
urbana. Os estados e os municípios não se interessavam ou se deixavam
vencer pelas primeiras dificuldades. Com os preparativos para a Copa
esse jejum foi quebrado e as obras de mobilidade saíram do papel. Esse é
um legado importante, as obras que ficam.
A
Transcarioca, esperada há 30 anos, agora é uma realidade, a ampliação
de várias linhas de metrô também. Enfim, o país ganhou tanto na
mobilidade urbana quanto na questão dos aeroportos, que vão atender bem
os brasileiros, e eu estou falando de quase 10 milhões de embarques e
desembarques que ocorreram durante o mês da Copa do Mundo. Mas tudo isso
é menor que aquilo que o turismo efetivamente recebeu como lucro com a
Copa do Mundo. Os números do turismo, os dados de consumo, a
movimentação, aquilo que os turistas gastaram no Brasil, tudo isso
superou a melhor expectativa. Portanto, do ponto de vista do turismo ou
do ponto de vista da estratégia de turismo essa Copa do Mundo foi
imbatível inegavelmente, é um marco no caminho brasileiro para o futuro.
Mas é bom
lembrar, como a seleção, nós temos várias deficiências em infraestrutura
turística e nós acompanhamos isso desde o momento que chegamos ao
Ministério. Nós precisamos, portanto, cuidar com seriedade, com
responsabilidade, com presteza e muito planejamento de algumas questões.
A formação de uma mão de obra especializada na área de prestação de
serviços, pois não dá só para improvisar.É preciso que os cursos de
Turismo do Brasil, tanto das instituições públicas quanto das privadas,
que eles se adaptem aos novos tempos, disponibilizem aos alunos
condições de aprender aquilo que o mercado vai exigir deste profissional
quando ele estiver no mercado de trabalho. Ele precisa ir para o
exterior, e nós iniciamos isso quando fomos ministro do Turismo, e
aprender com os países que já fazem isso há muito tempo, e muito bem,
como se faz um turismo sustentável, não na questão ambiental apenas, mas
naquele em que o turista é bem recebido desde o dia que chega até o dia
que vai embora.
É
preciso ter programas de línguas muito fortes, nenhum país monoglota
consegue atingir um nível de atendimento ao turista muito elevado.
Precisamos melhorar o atendimento nos hotéis, é preciso modernizar a
gestão do setor de turismo. Portanto, é preciso também mudar e melhorar o
modelo de gestão, ou seja, o Brasil é um enorme potencial turístico,
nós provamos agora que somos capazes de atender milhares de turistas
muito bem, mas é preciso entender que não é a improvisação que vai
determinar o nosso futuro, é preciso trabalhar o futuro de forma
permanente, de forma responsável, de forma interessada para que o Brasil
efetivamente possa dizer que a Copa lhe deixou um grande legado e que o
país soube aproveitar.
– Em relação aos preços dos voos e hotéis, o senhor acha que ficou dentro do que estava previsto?
Gastão Vieira
- É claro que ficou dentro do esperado, isso é uma questão de mercado,
uma questão econômica, como é muito claro também que aqui e ali um hotel
ou uma companhia aérea inflou o preço da sua diária, o preço da sua
passagem. Quando é que eles iriam aumentar? Aumenta quando tem uma
demanda, quando tem uma pressão de demanda que é maior do que é a
oferta.
O grande
problema é que todo mundo dizia que ia ser a regra e foi uma exceção,
pois os preços das passagens durante o período da Copa, no dia dos
jogos, não ultrapassaram aquele limite razoável que o mercado reage
quando há uma especulação de busca de oferta por parte do consumidor.
Então tudo ficou dentro do padrão, dentro daquilo que nós esperávamos.
Agora, é preciso alinhar uma política junto com o setor hoteleiro, junto
com os restaurantes, junto com as empresas aéreas para que a gente
continue aprimorando esses serviços. Eu volto a dizer, os mais de um
milhão de turistas estrangeiros que vieram para a Copa do Mundo não
significam muito diante dos milhões de brasileiros que vão continuar
viajando pelo nosso país. Nós temos um problema de demanda interna, mais
até do que de demanda externa, e nós demos conta. Agora não dá mais
para improvisar, a Olimpíada de 2016 vai ser um bom teste da cidade do
Rio de Janeiro para que a gente faça as coisas com responsabilidade e
não fique torcendo para dar certo. Dá certo porque nós trabalhamos para
dar certo e não dá certo porque Deus ajudou e deu certo, isso deve ser
mudado definitivamente.
– E sobre o resultado da Copa do Brasil?
Gastão Vieira
- Eu penso que esse é um momento de não encontrar culpados, porque
quando você encontra rapidamente um culpado você deixa de fazer aquilo
que é necessário para que nunca mais você precise encontrar um culpado.
Portanto agora culpar o Felipão, descobrir os seus erros, erros de
convocação, erros de disciplina, erros de esquema tático, não interessa
nada ao país. O que fica é o exemplo alemão, não apenas de terem sido
campeões, mas porque depois do fracasso que eles tiveram na Copa da
União Europeia eles mudaram a estrutura do esporte na Alemanha
permitindo, portanto, colher os frutos que eles colheram sob todos os
aspectos agora nessa Copa do Mundo.
O
Brasil precisa começar a ter um planejamento mais efetivo, apostar nas
divisões de base, os clubes precisam se organizar e se tornar rentáveis e
eles já têm o melhor instrumento pra isso que são os belíssimos
estádios que foram aprovados pelos torcedores da Copa. Só isso já
representa 50% da mudança que se pretende fazer. E acima de tudo, ter a
certeza de que já não somos mais esse exemplo de futebol, mas
continuaremos a ser a maior fábrica de talentos futebolísticos que o
mundo já viu.
E
nesse momento em qualquer várzea, em qualquer município brasileiro há
um menino despontando e fazendo com uma bola coisas maravilhosas. É
descobrir esse menino, trazê-lo para um programa de formação, não
deixá-lo ir para o exterior antes da hora, dar oportunidade de subir nas
categorias de base para a categoria principal. A seleção brasileira,
que perdeu a Copa do Mundo, não tinha nenhum jogador da seleção campeã
sub-20
da América Latina, ninguém aproveitou nada.Então precisamos parar com
essa mania de endeusar determinados jogadores e endeusando estes
jogadores acharmos que resolvemos tudo.
Ascom/Dep. Gastão Vieira
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