CORONEL GONDIM: A luta agora é contra a morte


Vejo a força da morte e a coragem de um homem. A luta é desigual. O homem já abatido, sobre o leito da UTI de um hospital, reage. A morte, traiçoeiramente o domina, sem pressa. É uma batalha bilateral. Não há protetores, logo, não tem protegidos. O homem é Antonio Alves Gondim. A morte é a morte. Gondim, na vida terrena foi policial militar de carreira: de soldado raso a coronel, trilhou só caminho – com bravura, defendeu os oprimidos e aliou-se aos humildes.

Soldado, cabo, sargento, tenente, capitão... Enfrentou poderosos, defendeu oprimidos. Em nome do povo da Ilha Rebelde tentou destituir governo ilegítimo. Usou as armas que dispunha. Esqueceu-se, porém, daquela que, tal qual a morte, apareceu de repente, impedindo-o de consumar o fato: a traição de alguns companheiros. De episódio, registrado pela história do Maranhão – não nos cabe detalhar – sobraram vítimas. A maior de todas, como ocorre até hoje em confrontos dessa importância, foi o povo.

Mas, em reconhecimento à atividade do “capitão Gondim”, a população rebelde da Ilha o fez, anos mais tarde, seu legítimo representante, em elegendo-o deputado estadual mais votado na capital. A fama se contrapôs à expectativa de um povo desinformado que imaginava, como hoje, que um parlamentar oposicionista seria capaz de realizar obras, de depor governador, de prender corruptos, de afastar do convívio do poder os incapazes e os subservientes. A frustração, também, foi bilateral.

Os corruptos e os subservientes continuam mais poderosos, zombando dos homens sérios e se dando bem, mais do que naquela década de 50, de tantos choques entre titãs bem intencionais e aproveitados convenientemente pelos oportunistas, que ainda hoje proliferam nos corredores dos palácios.

O coronel Gondim, que antes foi major, capitão, tenente, subtenente, sargento, cabo e soldado, quem sabe, na vida espiritual, vai ser o soldado que pediu a Deus? Humilde como o é, com certeza não exigirá patentes para poder servir ao Senhor.

Já na reserva e sem o mandato de deputado estadual, viajou. Deixou o salário para esposa e filhos. Meses depois, da Ilha do Bananal, do Mato Grosso do Sul, escreveu dizendo que estava bem, entre índios e índias e que voltaria breve. Conheceu a natureza nua a crua. Cumprindo o que prometera, logo regressou à Ilha que o consagrou líder.

Em seguida, – não pretendo falar em datas e nomes porque a história tem esses registros com todos os detalhes – Gondim foi convidado para assumir o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e durante esse período acumulou outros cargos importantes na área de segurança pública, como delegacias especiais e regionais e o departamento de Segurança Pública. Estávamos no regime militar ou na ditadura, como normalmente se denomina os regimes de execução ou de arbítrio.

Exerceu democraticamente as funções, apesar do regime em vigor. O deputado Haroldo Sabóia, à época o maior opositor dos governos estadual e federal, destacou da tribuna da Assembléia essa virtude do cel. Gondim. Um homem que exerceu a sua função com lucidez, democraticamente, sem se deixar intimidar pelos seus superiores, nem sempre identificados com esses princípios de igualdade e de responsabilidade que devem nortear ocupantes de cargos públicos. Esse reconhecimento do deputado de oposição desagradou colegas e superiores do diretor do Dops.

Devidamente consciente de que é preciso separar a narrativa pura e simples da vida de Antonio Alves Gondim, não considero justo omitir que esse bravo homem é avô dos meus filhos, bisavô dos meus netos. Pai de outros filhos que, a exemplo de minha mulher, também lhe dera tantos outros netos e bisnetos.

Considera-se cel. Gondim humildemente vencido, jamais humilhado. Dê a mão à morte. Ela reconhecerá a sua bondade e o levará à presença de Deus.

Hoje, no leito da UTI do Hospital Português, tem apenas a ameaçá-lo, a morte. No brilho dos seus olhos sente-se a força, a resistência, a coragem e a bravura. Será vencido, todos sabem. Mas não desistirá da luta que não tem hora para acabar.

3 comentários

Unknown disse...

Tive uma grata oportunidade de conhecelo pessoalmente foi um grande homen.um martire que jamais será esquecido que deus o guarde no reino em paz.

Unknown disse...

Ele era pai de Iara Godin e Flor de lis Godin
Minha mãe fala muito esse nome

Unknown disse...

Olá, me chamo Scarleth Barbosa. voce conheceu ele e entao tenho interesse de lhe conhecer. Poderia me pasaar seu contato?

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