(Sotaque da Ilha, Jornal Pequeno/JP Turismo, 5.12.2014)
(Maranhense, no exílio, e fãs compatriotas tomaram nossas dores contra Pasquale Cipro Neto, que deu a primazia para o Rio, e nem passou, aqui, no Xirizal do Oscar Frota)
Herbert de Jesus Santos (*)
No
princípio, era o verbo, qual para Fábio Procópio, professor, formado em Comunicação Social (Relações
Públicas) pela Unesp, e com quês de José Veríssimo (paraense,
crítico e estudioso colossal da Literatura verde-amarela, que deu ao nosso Estado a ascensão de Atenas
Brasileira e foi o idealizador da
Academia Brasileira de Letras, no Rio), na
polêmica que se balança nas redes sociais de Ser ou não Ser o Maranhão o Lugar Onde Melhor se Fala o Português
no Brasil: “(...)Com o aumento da demanda internacional por algodão,
para atender à indústria têxtil inglesa, e a redução da produção norte-americana,
por causa da Guerra da Secessão, formou-se um cenário ideal para a produção
algodoeira no Maranhão, no século XIX. Na fase de ouro da economia maranhense,
São Luís passou a viver uma efervescência cultural, relacionando-se mais com as
cidades europeias do que com outras brasileiras, e foi a primeira a
receber uma companhia italiana de ópera. Possuía calçamento e iluminação como
poucas do País. As últimas novidades da literatura francesa eram recebidas
semanalmente. É nessa fase que São Luís passa a ser conhecida por Atenas
Brasileira. A denominação decorre do número de escritores locais que exerceram
papel importante nos movimentos literários brasileiros a partir do romantismo.
Surgiu, assim, a imagem do Maranhão falando
o melhor português do País. A primeira gramática do Brasil foi escrita e
editada em São Luís por Sotero dos Reis. (...)”
Já na obra Preconceito Linguístico,
Marcos Bagno, tradutor, escritor e linguista, da USP, achou que
desmistificou o fato de que o
Maranhão é o lugar onde melhor se fala o idioma, por o melhor falar não
depender da região geográfica:“Toda
variedade linguística atende às necessidades da comunidade que a emprega. (...)
É também resultado de um processo
histórico próprio, com suas vicissitudes e peripécias particulares”. Citou uma entrevista onde o professor
paulista Pasquale Cipro Neto, na revista Veja, diz que o português do Maranhão
não é o melhor falado, e, sim, o do carioca, e aí reforça sua ideia de que não
há local onde se fale o melhor ou o pior, e que isso depende da posição social que o
brasileiro possui diante da norma culta do português: “As pessoas das classes cultas de qualquer lugar dominam melhor a norma
culta do que as pessoas das classes não cultas”... Aí, pôs Pasquale mais embaixo: “Pela falta de argumentos
científicos, por parte de Pasquale, na
Veja, não há uma especificidade de faixa
etária, classe social ou nível de instrução das pessoas às quais trata”.
O português do Maranhão na ponta da língua
do Brasil — “Aqui, no Sul, há um
grande problema, usamos muito o ‘tu’, mas
conjugamos os verbos na 3.ª pessoa; aí
fica ‘tu vai’, ‘tu foi’; só conjugamos corretamente o verbo em situações
bastante formais. Parabéns ao Maranhão! Abraços, Mateus”! A seguir, a internauta Cibele: “Discordo do Pasquale (e não sei, quando é que concordo com
ele). Para mim, é sim no Maranhão que se fala o melhor português! Trabalho com
diversos estados aqui, e eles escrevem muito bem, além de falarem bem; nem o
´porrrta´ eles puxam. Bem aí, Fábio Procópio entrou no papo, sem atentar que, a
mesma pessoa, tratou de ti e você (12.8.2009): “Pois
é, Cibele, discordo de ti quando você realmente diz sobre o Maranhão e sobre o
fato da pronúncia da palavra “porrrrta”. Os regionalismos no Brasil não podem
ser vistos como algo errado, e sim um facilitador da comunicação nas diferentes
regiões. Não existe um lugar correto onde se fala o melhor português do País,
este foi o meu intuito ao escrever este texto… indagando o fato da afirmação de
termos o Maranhão como o melhor português!”
Patrício magistral inicia a detonação
de Pasquale (19.8.2009) — Um da tribo embasada, dizendo-se Marcelo, municiado
de gregos e troianos, deu início à desestruturação de Pasquale: “Eu,
particularmente, penso que é uma verdadeira barbárie linguística convidar Pasquale pra falar sobre língua-linguagem e
sociedade. Ele não tem estudos científicos na área e navega numa relação muito
pragmática e fechada da língua, esquecendo-se que desde os primeiros estudos
linguísticos, engendrados por Saussure, já se separava a língua (estrutura
social) da fala(individual), ou seja, se eu falo “Nóis vai lá”, quem não aceita
é a gramática normativa, e não a língua, porque há na língua um espaço de
resistência que é marcado pela fala – individual e intransferível. Entre língua
e fala, a antinomia é total. A fala é um ato, uma manifestação atualizada da
faculdade da linguagem dentro de um contexto, enquanto a língua é um sistema
virtual que apenas se atualiza na e pela fala. De acordo com Ullman, a língua
não é senão o resíduo de inumeráveis atos da fala, enquanto que estes são
apenas a aplicação, a utilização dos meios de expressão fornecidos pela língua.
Precisamos aprofundar mais essas questões, pra não ficar nesse simplismo do
Pasquale.”
Um maranhense da gema com papo de alta cultura — Nesse lugar, ingressou
na frutuosa controvérsia, Nilvan Braga, sem declinar sua procedência, ora, a
não ser seu berço, e, por seu arrazoado, possuidor de uma bagagem
portentosa: “Entendo todos os argumentos citados aqui, discordo daqueles que
colocam a norma culta (no falar) em segundo plano, quando à esta é dada apenas
a variante do regionalismo, mostrando um desleixo total com a intimidade da língua
falada e escrita. E isto é o que faz diferençar o Maranhão dos outros estados,
quando naquele não se vê grandes diferenças entre o português falado e o
escrito. Vendo por esse lado, faz muito bem o falar do povo do Maranhão, pois
lá, sim, usa-se um regionalismo, mas aquele que enaltece a língua falada e
escrita e não se nivela por baixo, deixando caí, também, o argumento de que
falar bem provém de quem é, social e economicamente, privilegiado. Esse argumento
fica desnudo quando se vê pessoas de todos os níveis sociais, no Maranhão, a
desenvolver com leveza uma boa articulação com a língua portuguesa. Fato, este,
incomum para a maioria da população brasileira, mesmo entre aqueles que se
dizem bem formados”.
Mais pérolas do conterrâneo no exílio: nosso legado — Adiante, solta
outras pérolas de conhecimento: “É com muita tristeza que vejo pessoas com
potencial de formadoras de opinião –quando não o são– fazerem comentários de
que não existe um falar melhor ou pior, mesmo que o ponto em questão seja a
forma mais próxima da língua culta (de Portugal ou do Brasil), pois essa
postura somente coaduna para aumentar a distância entre linguagem e língua
(espírito e matéria – se assim posso comparar). Meu objetivo, aqui, é somente
enriquecer a discussão, pois não acho que o Maranhão fala bem português só por que
usa o pronome “tu” com seus correspondentes verbais. Quem vê somente isso, vê
de forma simplória e, até mesmo, desrespeitosa, pois o que, lá, ouve-se falar é
aquilo que podemos chamar de correto, mesmo que isso signifique diminuir aquilo
que entendemos por errado (ou regionalizado – como mascaram), ou que, assim,
poderíamos chamar. Não vejo lógica privilegiar o que destoa em detrimento do
que entoa. Parabéns ao povo do Maranhão, pois este é um legado que não lhe
deverá ser tirado! Que o povo
brasileiro tenha o privilégio de
conhecer um pouco mais desse Estado e de sua Capital – outrora chamada de
Atenas Brasileira.”
Fábio Procópio
rendido, e como gente grande (16.9.2009): “Olá,
Nilvan: Obrigado por enriquecer nosso diálogo. Concordo no que diz respeito ao
fato do legado maranhense. Tenho muita vontade de conhecer este Estado e este
povo! Você é maranhense?” E Nilvan (17.9.2009), com a nossa procuração: “Olá,
Fábio! Sou maranhense, sim! Se queres, realmente, conhecer meu Estado, estarei à
disposição. A cada três meses, dirijo-me
para São Luís, de modo que, com essas visitas, não me distancio de minhas
raízes ludovicenses, formadas durante dezesseis anos em que lá vivi. Abraços”. E Fábio Procópio, alteza em sua
sinceridade: “Sou um
curioso pela vida. Um aprendiz que busca no desenvolvimento das pessoas uma
fonte de inspiração e de aprendizado.”
No
Xirizal do Oscar Frota, Pasquale ia lá pra Casa do Caralho! — Desde que Pasquale,
na Veja, destratou nossa fama de falar o melhor português do Brasil, para ele, o
Rio, sem nem sequer dar-se ao luxo de vir aqui, projetei a publicação da
cartilha ortográfica Assim Está Escrito em São Luís, aonde, se vindo, aqui, no famoso
bordel Xirizal do Oscar Frota, no Portinho (sucessor da boêmia Zona do Baixo
Meretrício, na Rua 28 de Julho, ou do Giz, e adjacência), seria mandado depressa “Lá pra casa do caralho!”, que existe em
Portugal, e de onde se originou o termo chulo, no Brasil.
(P.S.: Como prêmio pelo destrato, Pasquale será palestrante da aula
inaugural da UFMA, nesta segunda-feira, às
17 h, no Centro de Convenções da instituição)
(*)Jornalista e escritor (poeta,
cronista, contista, novelista e romancista)
Um comentário
Prezados!
Obrigado pelas citações ao meu nome registradas neste editorial.
Congratulações,
Nilvan Braga
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