O dia em que o Brasil parou


João Batista Azevedo (Interino)

Pela primeira vez o Brasil parou. E o governo está encurralado. E não foi nenhuma força de esquerda, de direita, de centro. Nenhum partido político ou central sindical. Foram os “caminhoneiros” que pararam o Brasil. A força que transporta as riquezas e tudo que se produz neste país, e que não suporta mais as constantes altas nos preços dos combustíveis se cansou da alta dos impostos e da celeridade com que os preços dos derivados do petróleo estão tendo no governo do presidente Temer. Esta bomba era fato anunciado, mas ainda assim podemos dizer que pegou boa parte da população de surpresa. Poucos acreditaram que chegasse a tanto. Hoje após sete dias de paralisação, pode se medir a força que tem os caminhoneiros. Os bloqueios nas rodovias e em pontos estratégicos fizeram com que produtos agrícolas não chegassem às centrais de distribuição e comercialização, aos supermercados e às feiras. Os combustíveis (a causa de todo esse furdunço) também não chegaram aos postos do país, aos aeroportos. Resultado: tudo foi parando. E a luta que foi só dos caminhoneiros ganhou simpatizantes e contrários por todo o país. Há, ainda, a questão econômica, em que se destaca uma característica nacional, que é a carga elevada de impostos. No caso dos combustíveis, a União e estados estão juntos na grande avidez por impostos. Há o PIS/Confins federal e o enorme peso dos ICMS cobrado nos estados, cujas taxas giram em torno de 30%. No caso da gasolina, os impostos somados chegam a 45%. E é bem aqui o xis da questão. Enquanto isso, o governo acha que resolverá a situação decretando o uso da força para a desobstrução dos pontos de paralisação. Uma lástima!

Somos todos caminhoneiros
Em meio a essa guerra que divide opiniões por todo o país, é bom que se diga aos incautos, que mesmo sendo extensiva a luta dos caminhoneiros pela redução dos preços dos combustíveis, o governo parece ignorar a outra parte da população que usa gasolina e gás de cozinha. As negociações de redução de alíquotas do PIS/Confins e da CIDE incidirá apenas sobre o óleo diesel. Se de fato isto ocorrer em moldes satisfatório, talvez o movimento acabe, e a população usuária dos demais combustíveis, sobretudo a gasolina, terá perdido uma boa oportunidade de fazer o governo rever sua política escorchante de altos impostos. Uma boa saída para a crise instalada seria, em nome de um pacto federativo, tão falado e propalado pelos políticos, sem no entanto nunca isto ter se tornado realidade, a redução das alíquotas do ICMS pelos estados no preço da gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, afinal de contas, o país começa pelos estados, e estes pelos municípios. Seria a contribuição do estado. A compensação seria dado pelo governo federal. O que não pode é só a população pagar essa conta. Daí bem oportuna a chamada: “Somos todos caminhoneiros”!

O país que temos
A crise que vivemos hoje mostra o quão é deficitário o nosso país e quanto alopradas são as nossas autoridades. A crise que se instalou é de natureza política e da falta de ética com que esta é tratada pelos seus agentes. O país acomoda-se em sua velha estrutura de rodovias também velhas e mal cuidadas. Não investe em outras matrizes de transportes, como as ferrovias ou hidrovias por exemplo. Vale também ressaltar que o Brasil é o país do mundo cujo percentual de acréscimo de etanol à gasolina é o mais elevado, entre 25 e 27%. E afinal de contas, não somos autossuficientes em petróleo? E as grandes reservas do pré-sal? Mas o que mais atazana a paciência do brasileiro é o escamoteamento das verdades e das mentiras. E o governo é dono disso. Maquiar números sobretudo na economia parece ser uma prioridade. Num país que tem a gasolina e o óleo diesel um dos mais caros e que tem sua logística de tudo, transportada em sua maioria por meios de transportes que fazem uso destes combustíveis, que por consequência geram a alta dos preços para o consumidor, ainda diz ter uma inflação na casa de 0%, só podia chegar onde chegou.

Parafraseando Raul
Uma das belas composições do magnífico Raul Seixas é sem dúvida “O dia em que a terra parou”. Nesta música Raul fala de um sonho em que ninguém sairia de casa. O funcionário não iria trabalhar porque o patrão não estaria lá. O guarda ou policial não iria prender. O ladrão não sairia pra roubar, afinal onde iria gastar? No sonho de Raul, não estavam os fiéis nas igrejas nem o padre. Nas escolas não estavam nem professores, nem alunos. Ninguém. Só que lá, no sonho, houve uma resolução inconsciente, como se não fosse, as pessoas resolveram que ninguém ia sair de casa. Mas era apenas um sonho. Hoje, na realidade, o Brasil parou ou quase parou. Pois ainda restam aqueles, que trôpegos, buscam os hospitais, as ruas em busca de emprego, esmolam nas ruas migalhas que lhe possam saciar a fome, enquanto os políticos lá em cima brincam de governar e se valem ainda da força para calar o grito dos sufocados.

Pagando o pato
É imprevisível o resultado de tudo isto. Mas é certo que o clamor das ruas precisa ser ouvido pelas nossas autoridades. Estas precisam descer dos seus púlpitos e ouvirem a voz do povo que os elegem. O Brasil é um país de riquezas imensuráveis portanto não cabe só aos brasileiros “pagarem o pato” pelos desmandos de políticas mal fadadas. É hora de parar pra ajeitar! E que Deus não nos abandone!

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