Lourival Pinheiro
Para que tem o hábito de ler
assiduamente, quando olha um livro que ainda não leu, é como se ainda faltasse
abrir uma janela para ver um mundo novo.
E, é assim cada livro lido é
mais um mundo novo que a gente conheceu.
A leitura é uma espece de alimento
abstrato e psíquico que nutre o espírito para exercício do saber.
Ler é um hábito viciante no sentido
nobre, salutar prazeroso e, necessário.
O ser humano tem duas necessidades
alimentar-se: a fisiológica – aquela que satisfazemos o estomago e a psíquica,
(da alma) que satisfazemos com um boa leitura; a leitura é o pão e o enlevo do
espírito.
A
falta deste alimento, constrange e sub–humaniza o cidadão, nulifica sua
vida, subordinando-o ao arbítrio daquele que é mais letrado, principalmente
políticos.
Aquele que não sabe ler não está integrado ao meio em que vive, é
como um papagaio amestrado, repete o que ouve sem as saber o que significa.
Mas, o analfabeto tem uma vantagem:
não sabendo ler ele não fica sabendo das suas premissas enganosas e ilusórias
da Constituição, não conhece o princípio da igualdade, nem seus direitos adquiridos preconizados no Art.5º da Constituição; não
sofre essa indignação.
Uma boa leitura transcende a fome do
estomago, às vezes estamos lendo algo tão interessante que chegamos ao jantar
esquecidos do almoço. E a gente ler cada episódio hilariante!
Quando eu era adolescente minha mãe
mandou-me comprar uma barra de sabão
numa quitanda, o comerciante envolveu a
mercadoria num papel amarelado pela ação
tempo. Antes de chegar em casa vi que se tratava de um pergaminho antigo
escrito em letras paleográficas.
Curioso li o manuscrito, este remetia
à guerra do Paraguai, era um recibo incrivelmente bizarro onde podia-se ler: Recebi da intendência de Cajapió a
importância de uma pataca, referente as cordas que vendi para amarrar os voluntários
da Pátria. Dado e passado em 08/ 09/ 1868– Ass. José Saturnino Pereira.
Para quem gosta de ler a vida é mais dinâmica e feliz. A
leitura tem um alcance e um sentido tão variados que são indefiníveis as
suas bonanças, entre as virtudes
da leitura estão o entretenimento
saudável e proveito didático.
Vejam o que acontece com quem sabe
ler ; quando eu era adolescente ouvia falar de um negro remanescente
de escravos, que fora criado na fazenda Pascoal em São Bento.
Esta propriedade era de doutor
Pereira Junior que era político se não
me senador da República Velha. O negrinho que eu
nunca soube o nome, era criado por Pereira Junior com certo afeto, tinha a
alcunha de Mourão de Ferro, (traquinas aos montes), mesmo assim o doutor
gostava dele.
–Negrinho vou ensinar-te a ler para
ninguém te enganar, Pereira começou ensinar as primeiras letras à sua criatura. Mas, o doutor passava
muito tempo fora cuidando de política,
não tinha tempo de levar em frente as aulas de seu pupilo.
O nosso personagem era muito
inteligente e, nas mesmas proporções era ardiloso e travesso. Quando o doutor
viajava Mourão de Ferro atravessava o campo todo dia e ia à casa de uma senhora
também fazendeira tomar aulas; isto o doutor não sabia e, Mourão ocultava.
Quando Mourão já estava bem adiantado
procurava ler os livros de Pereira
Junior e, aprendeu facilmente imitar as letras do doutor. Quando Pereira veio
do Rio de Janeiro, ainda com cheiro do
Catete, soube das astúcias da sua criatura; vendia queijos da fazenda para
comprar tabaco bebidas e outras travessuras.
Daí
pra frente o doutor Pereira ficou preocupado com a próxima viagem que
iria ser de seis meses – o que será que ele vai aprontar desta vez?–Ah já sei o que faze!
No dia da viagem ele sentou-se em uma escrivaninha e escreveu uma carta ao
amigo Hermógenes que era delegado e comerciante. Na carta ele pedia ao delegado
que prendesse Mourão até que ele voltasse. –Aproveito para dizer-te que
não é uma prisão por dolo e, explicou o
comportamento do negro e pediu que o mesmo fosse bem tratado.
Em seguida fechou a carta com goma
arábica, na hora da viagem ele chamou mourão e disse; levas esta carta para
Hermógenes, eu já vou viajar Deus te dê um bom juíso... ah ele já deu padinho!
Na rua o negrinho leu carta atentamente; ah é? Padinho vai ver...fez uma
carta com mesma caligrafia solicitando mercadorias entre elas muito vinho e
charuto cata–flor.
Quando doutor Pereira Junior voltou
do Rio de Janeiro, passou pela delegacia e perguntou ao amigo Hermógenes; cadê
o nosso passarinho? O delegado perguntou qual passarinho, ai o doutor, e o
Mourão de Ferro? Eu não vejo esse negro há muito tempo, desde que o amigo
mandou aquela carta pedindo aquelas mercadorias.
O doutor ficou uma fera, ao mesmo
admirado da inteligência do negrinho frajola! – Quando chegar em casa vou quebrar-te
a cabeça com bengala. Quando o doutor chegou o negrinho estava embrenhado no
mato.
No outro dia o negrinho chegou de
cabeça baixa– sua benção padinho, Pereira meteu a bengala na cabeça do negrinho,
quebro essa cabeça que só pensa no mal. Não faça isso padinho, não foi senhor
mesmo que disse que eu tinha que saber ler para ninguém me enganar?
É uma pena que nosso País ainda seja
o segundo mais analfabeto da América do Sul.
A
ilusão é uma fada que dá asas a tolos e desventurados.
(Do
autor)
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